A graça e a verdade (4)

Quando o cego de nascença é curado, desencadeia um verdadeiro vendaval no ambiente religioso de Jerusalém. Jesus é acusado de ser um impostor, que não observa a lei, nem a tradição dos anciões. No entanto, a verdade de Deus é proclamada através da boca desse homem, até ontem um excluído da sociedade, agora um espinho que fere a intocável classe dos fariseus. Esse homem ao qual eles rejeitam –lhes diz– é um homem "temente a Deus" e que "tem vindo de Deus". Os fariseus não puderam suportar e o expulsaram da sinagoga.

O Senhor o acha depois, e se revela a ele, acrescentando: "Para juízo eu vim a este mundo; para que os que não vêem, vejam, e os que vêem, sejam cegados". Os ex-cegos agora vêem e os que presumiam ver são desnudados em sua cegueira. Antes do Senhor aparecer parecia o contrário, que o cego era cego e que os fariseus viam. Mas isso era só aparência.

Cumpre-se assim o que Simeão tinha profetizado diante de Maria, tendo o menino Jesus nos braços: "Este será posto para queda e levantamento de muitos em Israel, e para sinal de contradição... para que sejam revelados os pensamentos de muitos corações" (Luc.2:34-35). Uns caem e outros são levantados; os pensamentos dos corações se revelam. É a verdade que ilumina.

No episódio do bom Pastor, o Senhor traz à luz a verdade sobre os pastores. Os fariseus criam que eram pastores de Israel, mas eram só assalariados. O verdadeiro pastor –lhes diz o Senhor– é aquele que dá a sua vida pelas ovelhas. Não os que usufruem das ovelhas, mas sim os que as servem até dar a sua vida por elas. Desde esse momento em diante este será o verdadeiro distintivo dos verdadeiros pastores.

Com a morte de Lázaro fica claro que os amigos do Senhor, por mais íntimos que sejam, não podem escapar da morte. Eles também têm uma enfermidade incurável, também têm que morrer, se é que desejam glorificar o Senhor. Eles se juntam ao Senhor na sua mesa, eles escutam dos seus lábios os segredos do reino, mas igualmente são filhos de Adão, e igualmente devem morrer.

É a parte subjetiva de Romanos 6, porque as verdades objetivas da Palavra têm que fazer-se carne. Tal como o Verbo se fez carne em Jesus Cristo, também tem que encarnar-se nos que são de Cristo. João 11, com o episódio de Lázaro, mostra-nos como Deus prepara o dia em que temos que passar pela morte para sair para a ressurreição. Quando isso ocorre, o Senhor é verdadeiramente glorificado, e o frasco de perfume e Maria poderá ser quebrado para que toda a casa se encha do aroma do nardo puro.

A verdade é que Lázaro não terá valor se não passar pela morte; a graça radica em que Lázaro não ficará no sepulcro, mas sim voltará a sentar na mesa com o Senhor para deleite e assombro de todos os que o amam.

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