Ações proféticas

Pedro e João foram chamados pelo Senhor para lhe seguir enquanto trabalhavam como pescadores. Provavelmente eles conheciam o Senhor antes, mas ainda não lhe seguiam. Eles conservavam ainda seus trabalhos seculares. Pedro lançava a rede ao mar, e João remendava as redes. Entretanto, a ação que desenvolviam nesse momento, quando o Senhor os chamou, definitivamente foi profética. O ministério espiritual que ambos desenvolveram mais adiante guardaria relação com estas ações. O espiritual seguiu o leito do material.

Assim também ocorre com todos os servos de Cristo. O que fizeram antes de conhecer o Senhor incidirá em seu serviço espiritual, pois eles foram chamados do ventre de sua mãe (Gál. 1:15). Tudo aquilo foi uma valiosa preparação; entretanto, nem tudo servirá. Algumas coisas serão conservadas; outras serão tiradas. Quais serão conservadas e quais tiradas? Não sabemos. Só o Espírito Santo sabe, e ele decide o que conservar e o que tirar. Ao observar a vida desses dois apóstolos podemos ver algumas coisas que foram conservadas e outras que foram tiradas.

Pedro tinha muita iniciativa e espírito executivo. Entretanto, vez após vez, ele foi derrotado nisso. Inclusive como pescador, certa vez sua iniciativa não serviu, quando sugere ao Senhor o que ele não deve fazer (Lc. 5:1-9). Em seguida, em várias outras ocasiões, ele tomou a iniciativa com o Senhor, mas não lhe serviu (Por exemplo: nos episódios do anúncio da cruz, do monte da transfiguração, do estáter, da negação, na conversação final junto ao mar).

Mas o que vemos mais tarde? Que nos grandes marcos de sua vida espiritual, foi o Senhor quem tomou a iniciativa. Assim, por exemplo, suas duas grandes mensagens no livro de Atos foram precedidos por intervenções soberanas do Senhor. Assim foi também na casa de Cornélio. As palavras proféticas do Senhor para Pedro no final do evangelho de João apontam a isto mesmo. Diz-lhe que quando ele era jovem ia onde queria, mas quando for velho, estenderá as suas mãos, e outro lhe levará para onde ele não queira. Ele já não terá que tomar iniciativas (Jo. 21:18).

Por outro lado, João estava sendo chamado a restaurar o testemunho de Deus. Mas como podia fazê-lo João "filho de Boanerges", o violento, o que proibia a outros de expulsar demônios no nome de Jesus (Lc. 9:49-50), que queria fazer descer fogo do céu sobre uma aldeia de samaritanos (Lc. 9:52-56)? Um restaurador tem que ser meticuloso, cuidadoso, para que não danifique a obra que restaura. João foi utilizado como um remendador, mas para poder sê-lo, seu caráter violento devia ser transformado antes. Finalmente, João chegou a ser um homem manso, amoroso e humilde.

Assim, as atividades que realizamos antes de conhecer ao Senhor, suelen ser proféticas de nosso serviço ao Senhor. Muitas delas –e as habilidades derivadas delas– serão utilizadas depois, mas não sem a cruz.